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Declaração e respostas a perguntas da comunicação social do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, após a reunião do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, com a cúpula dirigente do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Moscovo, 14 de junho de 2024

Todos ouviram o discurso do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, e a sua análise aprofundada da situação da segurança mundial, europeia e euro-asiática. O Presidente Vladimir Putin voltou a expor em pormenor a nossa posição coerente em relação à Ucrânia, que até agora nunca foi compreendida pelo Ocidente, que decidiu fazer da Ucrânia um instrumento para reprimir a Federação da Rússia, usando para o efeito métodos militares, económicos e outros.

Falando da segurança, Vladimir Putin disse que o modelo de segurança euro-atlântico é coisa do passado. A este respeito, gostaria de referir que, depois de a União Soviética ter deixado de existir, e nos últimos anos da existência da URSS, estávamos prontos (o Presidente da Rússia também nos recordou hoje este facto) para a cooperação, entendendo que deveria ser tal que garantisse a igualdade e o equilíbrio de interesses. Porém, o Ocidente, tendo decidido que tinha vencido a Guerra Fria, optou por dominar todas as áreas e lugares. Nas primeiras duas décadas do século passado, também estávamos inseridos em estruturas euro-atlânticas. No final da década de 1990, foi criado o Conselho Rússia-NATO. Tínhamos um mecanismo ramificado de interação com a União Europeia; realizavam-se duas cimeiras por ano, havia quatro espaços comuns, um grande número de projetos conjuntos. Naturalmente, a OSCE (apesar do seu nome) foi também um fruto do conceito de dimensão da segurança euro-atlântica. Todas estas e outras estruturas, que, de uma forma ou de outra, estavam "ligadas" à dimensão euro-atlântica, provaram ser inconsistentes em resultado da posição dos EUA de subordinar tudo e todos à sua vontade.

Também a Europa se tornou uma das vítimas desta política. Perdeu a sua independência. Neste sentido, a segurança como algo alcançável e desejável no contexto euro-atlântico deixou de ser relevante para nós. Nós, como disse o Presidente Vladimir Putin, queremos a segurança na Eurásia. Isto é lógico. Porque partilhamos o mesmo continente, e nenhuns oceanos ou La Manches nos separam.

Este continente possui desde já várias associações de integração. Muitas delas lidam com questões da segurança. Refiro-me à OTSC, à CEI, à OCX e a estruturas económicas como a UEE e a ASEAN. Todas elas funcionam no espaço eurasiático comum. Em 2015, na primeira Cimeira Rússia-ASEAN, em Sochi, o Presidente Vladimir Putin propôs que se pensasse em harmonizar os processos de integração no nosso continente no contexto da formação de uma Grande Parceria Euroasiática.

Para além das organizações que mencionei, existem outras estruturas de integração, incluindo no Sul da Ásia e na região do Golfo Pérsico - o Conselho de Cooperação dos Estados Árabes. A Liga Árabe também está, em grande medida, a "tomar conta" do continente euro-asiático.

Como disse hoje o Presidente da Rússia, esta é uma Grande Parceria Euroasiática. Se se concentrar em cadeias económicas, de transportes e financeiras independentes do diktat dos EUA e dos seus satélites, formará uma espécie de base socioeconómica e material para o sistema de segurança que queremos construir. O Presidente Vladimir Putin sublinhou em especial que o sistema está aberto a todos os países e organizações do continente euro-asiático, sem exceção. Isto quer dizer que a porta está aberta também à Europa, aos países europeus que finalmente se aperceberem de que o seu destino está ligado à concretização dos interesses vitais dos seus povos e não ao "serviço" dos EUA, que "subjugaram" todo o "Ocidente coletivo".

Os objetivos fixados dizem respeito, em primeiro lugar e acima de tudo, à formação de um conceito concreto de Grande Parceria Euroasiática e da segurança euroasiática em todas as suas dimensões: militar e política, económica e humanitária. Como sabem, no nosso continente, em resposta às tentativas do Ocidente de usurpar o desporto internacional e a cultura internacional, estão já a ser realizados vários eventos que terão um contexto euro-asiático e, até certo ponto, global. Estou a referir-me aos já realizados Jogos do Futuro, aos Jogos do BRICS que começaram em Kazan, aos próximos Jogos da Amizade, ao Fórum das Culturas Unidas e ao Festival Internacional da Canção "Intervisão".

Por iniciativa do Presidente do Cazaquistão, K.-J.K.Tokayev, foi criada uma organização internacional para a língua russa que será também um elemento importante  de reforço do continente euro-asiático, onde muitas pessoas, países e nações conhecem e amam a língua e a cultura russas.

Quanto à Ucrânia, não tenho nada a acrescentar. O Presidente russo, Vladimir Putin, enumerou todos os gestos de boa vontade (até certo ponto, algumas concessões) que fizemos desde os acontecimentos na Praça  Maidan e o golpe de Estado em fevereiro de 2014. Os nossos numerosos passos que demonstravam a posição construtiva da Rússia, o nosso desejo de preservar o Estado ucraniano e torna-lo amigável para connosco, foram consistentemente rejeitados de forma dura e categórica.

Agora estamos numa situação em que o Presidente russo, Vladimir Putin, apelou mais uma vez para que nos dessem ouvidos, porque nos últimos dez anos, sempre que o Ocidente rejeitou as nossas propostas, nada de bom resultou disso.

Pergunta: O Presidente russo, Vladimir Putin, expôs claramente condições para o início de conversações de paz na Ucrânia. Como é que o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo planeia implementar na prática estas disposições e devemos esperar quaisquer contactos, tendo-se em conta a questão da legitimidade do atual governo na Ucrânia?

Serguei Lavrov: O Presidente Vladimir Putin falou detalhadamente sobre a questão da legitimidade. Não é a primeira vez que aborda este tema. Tudo está claro. Quando o Presidente da Rússia abordou este tema anteriormente, disse que a decisão definitiva deveria ser tomada no quadro político e jurídico da Ucrânia. Qualquer advogado chegará a estas conclusões depois de ler a Constituição ucraniana. Se esta mensagem não foi ouvida por ninguém até agora, isso significa que estamos mais uma vez desiludidos com os nossos parceiros ocidentais.

Quanto ao papel do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo. Não vamos correr atrás de ninguém. Os nossos embaixadores transmitirão o texto do discurso do Presidente russo, Vladimir Putin, e prestarão esclarecimentos adicionais (incluindo os antecedentes desta situação). Esperamos que haja uma reação. Não tenho dúvidas de que os países da maioria mundial compreendem tudo isto. Falei em pormenor com muitos dos seus representantes sobre o tema ucraniano, incluindo com os participantes na reunião dos Ministros dos Negócios Estrangeiros do BRICS Plus, a 11 de junho corrente, em Nizhny Novgorod. Todos eles o  compreendem perfeitamente.

Quanto aos decisores políticos. Estão agora em Itália, na reunião do G7, com Volodimir Zelensky a “rondar” por perto. Amanhã e depois de amanhã haverá uma reunião na Suíça, não se sabe quem vai participar e qual será o seu nível. Espero que o discurso do Presidente russo, Vladimir Putin, lhes dê o que conversar.

Pergunta (tradução do inglês): Como sabe, em breve haverá eleições em França. Pode dizer-nos como está a acompanhar a situação? O que espera? Quais são as suas expectativas?

Serguei Lavrov: Acompanhamos certamente a situação política nos países onde temos as nossas missões diplomáticas. Elas informam-nos sobre a agenda nacional e internacional dos países em causa, tal como os embaixadores franceses, norte-americanos e de outros países na Rússia informam as suas capitais sobre o que se passa no nosso país.

Quanto às minhas expectativas. Há muito tempo que não espero nada de ninguém, incluindo dos principais países europeus. Tenho pena deles. Não são independentes, como referiu o Presidente russo Vladimir Putin no seu discurso de hoje. O Presidente francês, Emmanuel Macron, declarou repetidamente a "autonomia estratégica". Mas veja o que está a acontecer na realidade.

Pergunta (tradução do inglês): As propostas de paz do Presidente Vladimir Putin baseiam-se no facto de a Ucrânia dever aceitar as condições propostas pelo lado russo. Mas não deveria a Rússia dar o primeiro passo e retirar as suas tropas do território da Ucrânia?

Serguei Lavrov: Ouviu o Presidente? Por duas vezes, no meio e no fim do seu discurso, ele disse que não queria repetir a sequência dos acontecimentos. O seu discurso terá ampla difusão e nele isso estará refletido.

Penso que, se ler o discurso, perceberá que a Rússia fez os possíveis com base nos acordos alcançados, que foram destruídos a mando de Boris  Johnson e de outros políticos.

Pergunta (tradução do inglês): Se a Ucrânia aceitar as condições apresentadas pelo lado russo, a Rússia vai parar de lutar? Porque é que o Ocidente deve confiar em vocês?

Serguei Lavrov: Não estamos a pedir ao Ocidente que confie em nós. A confiança não reflete a posição e as ações do Ocidente. Já foram citados muitos exemplos hoje. Não quero voltar a dizer sobre as obrigações não cumpridas, incluindo as de natureza jurídica.

Falando francamente, não nos interessa se o Ocidente confia ou não em nós. Eles têm de compreender a situação real. Eles não entendem nada, exceto a política real. Que se dirijam ao seu próprio povo. Eles têm democracia. Que perguntem às suas populações o que devem fazer em resposta às propostas de Putin.

Pergunta: Se não precisamos que o Ocidente acredite em nós, estamos a apresentar uma proposta. Digamos que eles concordam, retiramos as nossas tropas...?

Serguei Lavrov: Vou interrompe-lo. Não vou adivinhar o futuro através das borras de café. Penso que o senhor compreende que não faz sentido agora dizer "e se"… . Já foi dito.

Pergunta: Mas podemos ter a certeza de que eles não nos vão "trapacear" outra vez?

Serguei Lavrov: Claro que não. Foi por isso que tudo foi formulado da forma como foi formulado. Estamos prontos para resolver esta questão nas condições apresentadas pelo Presidente da Rússia. Só quando percebermos que essas condições estão a ser cumpridas é que vamos parar as hostilidades no mesmo instante, disse o Presidente.

Pergunta: Estamos a planear enviar a nossa iniciativa à ONU sob qualquer forma e como as propostas do Presidente Vladimir Putin serão passadas à Ucrânia, se isso se planeia fazer?

Serguei Lavrov: Penso que todo o mundo já leu estas propostas e todos já as conhecem. O género do discurso do Presidente não implica a publicação deste documento como proposta ou iniciativa oficial.

Esta é uma questão técnica. Não estou minimamente interessado em saber como isso será divulgado. Todo o mundo já está ciente disso. Veremos qual será a sua reação.

Pergunta: Se não estou em erro, os últimos contactos com o chefe da diplomacia norte-americana foram em janeiro de 2022. O senhor disse que, naquela altura, os norte-americano ignoraram as nossas propostas. Há dois anos que a operação militar especial está em curso. Atualmente, o lado norte-americano tem algum desejo de contactar oficialmente o nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros?

Serguei Lavrov: Não posso saber quais são os desejos, e muito menos as necessidades, do lado norte-americano, em todos os sentidos da palavra.

Pergunta: Não acha que as referidas propostas de iniciar conversações de paz se assemelham mais a um ultimato de rendição?

Serguei Lavrov: A sua pergunta não é muito correta.

O Presidente Vladimir Putin chamou especificamente a vossa atenção, antes de terminar o seu discurso, para o facto de querer mais uma vez reproduzir o quadro completo. Apoiámos o documento que preservava a integridade territorial da Ucrânia dentro das fronteiras de 1991. Isso foi a 21 de fevereiro de 2014. Toda a Europa garantiu o cumprimento do acordo entre o Presidente ucraniano, Viktor Yanukovych, e a oposição. O ex-Presidente Barack Obama telefonou a Vladimir Putin a pedir-lhe que não destruísse este acordo. Quando o apoiámos, deu-se um golpe de Estado na manhã seguinte. Se o golpe não tivesse acontecido, a Ucrânia estaria agora a viver dentro das fronteiras de 1991.

Depois, as regiões que se recusaram a reconhecer os resultados do sangrento golpe de Estado anticonstitucional foram declaradas terroristas. Houve uma guerra durante um ano. Com a nossa ajuda, quando todos nos pediram (alemães, franceses), foram celebrados os acordos de Minsk, segundo os quais a Ucrânia preservava a sua integridade territorial, mas sem a Crimeia. Posso falar longamente sobre isso.

O Presidente Vladimir Putin expôs tudo isso muito corretamente. Acho que o senhor tem uma mente analítica e será capaz de concluir sobre se se trata ou não de um ultimato. Mas se escrever que se trata de um ultimato, por favor não se esqueça de descrever como se chegou a esta fase, porque nas suas reportagens refere muitas vezes a "cultura de cancelamento" quando faz alguma conclusão e nunca refere as causas primeiras.

Ministerio de Asuntos Exteriores de la Federación de Rusia
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